quarta-feira, 17 de junho de 2009

Instinto

Instinto*

Substantivo masculino


1. Impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole.


2. Padrão inato, não aprendido, de comportamento, comum aos membros de uma espécie animal. Ex.: as abelhas fazem suas colméias sempre iguais por instinto.


3. (Psicologia) Esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro ou no tempo e que parece cumprir uma finalidade.

4. (Derivação) Freqüentemente. Impulso interior, independente da razão e de considerações de ordem moral, que faz o indivíduo agir, esp. se a ação é anti-social.


5. Faculdade de sentir, pressentir, adivinhar, que determina certa maneira de pensar, de agir; intuição. Ex.: meu instinto está me avisando para ficar hoje em casa.


6. Tendência natural para alguma atividade; talento, aptidão, inclinação.


7. (Psicanálise). Mesmo que pulsão.


Podemos considerar instinto como uma resposta, inata, imutável e automática a determinada situação.


O ser humano não faz a menor idéia do que seja um instinto seu. Algo que, de fato, podemos, com segurança, atribuir a uma resposta instintiva. Mesmo respostas que podemos considerar instintivas por natureza não podem ser assim consideradas, como, por exemplo, o ato de fugir diante de um perigo imediato. Nós humanos necessitamos aprender a considerar algo como perigoso, caso contrário não o consideramos assim. Ao contrário de nossos irmãos mamíferos que, em sua maioria, ao nascer estão plenamente aptos a distinguir o que é perigoso do que não é. A espécie humana não tem um comportamento padronizado que pode ser considerado herdado e que se aplique a toda a espécie.

A resposta pulsional de Freud é no máximo uma atenuação do instinto, ao criar o inconsciente ele tira a responsabilidade última do homem de seus atos, justificando o comportamento desajustado com uma falha que está além do indivíduo saná-la. E com certeza a pulsão não pode ser estendida a toda a espécie. Pulsionar uma atitude nada mais é do que justificar a revolta pessoal contra a pressão exercida pela educação no individuo.

Revolta essa que se bem analisada pode ser plenamente consciente. Exatamente como são conscientes os atos instintivos daqueles indivíduos que querem seguir seus instintos, mas não conseguem sair de seu emaranhado teórico-conceitual e decidir o que vêm a ser suas vontades instintivas.


O colapso ecológico e social que tem acometido o planeta, causado pela espécie humana, provoca em muitas pessoas o desejo de se tornar mais natural, de agir mais de acordo com seus instintos. Essa vontade se manifesta em diversas áreas do cotidiano, mas age principalmente no que eles poderiam chamar de instinto sexual, que como todos os outros é apenas uma concepção do que deveria ser esse instinto, e após as descobertas da primatologia comparada, essa concepção tem se tornado cada dia mais simiesca, numa tentativa de justificar suas vontades.


O que ocorre ao tentarmos dar vazão aos instintos, visto não existir um instinto que pode ser considerado humano, é que em lugar de dar vazão a instintos reais seguimos o que pensamos ser instintos. Formulamos uma concepção de instinto de acordo com o que acreditamos ser a coisa mais natural a fazer e fazemos. Neste ato podemos perceber a contradição fundamental dessa atitude. Pensar o instinto é não ser instintivo.


Da mesma forma a expressão “reprimir os instintos” é uma contradição, já que o instinto é, por definição, o que não pode ser reprimido. Justificar um ato de vontade com um instinto é não querer assumir a responsabilidade e as conseqüências de seus atos. É justamente isso que tem causado o colapso ecológico-social que temos vivido, já que, aparentemente, a espécie humana não pode deixar de agir de forma destrutiva e egoísta, porque esse parece ser um comportamento mais ou menos homogêneo na espécie.


Definir o que vem a ser vontade é assunto para outro artigo, mas a vontade do homem é soberana sobre seus atos e, a menos que haja erro, o que uma pessoa faz é exatamente o que quer fazer. Assumir essa vontade é a primeira atitude para o amadurecimento intelectual necessário tanto à espécie quanto ao indivíduo.


Como animais, é bastante provável que nós tenhamos instintos, e isso é óbvio, mas esses instintos são exatamente a parte de nosso comportamento que não questionamos. A parte que para nós não aparece. Ele está de tal forma incorporada à nossa vontade e ao nosso comportamento que é invisível. A espécie humana nunca deixou de agir de acordo com seus instintos, porém esses instintos não são, e já há bastante tempo, suficientes para suprir as necessidades humanas, e a parte substancial de nossas escolhas deve ser tomada conscientemente e com o único auxilio da razão.


Cássio Silveira Gomides


05/02/2008

*Acepções retiradas do Houaiss.