Carnívoro puro | Coletor puro | Primata caçador |
Separação motivacional entre caça e comida | Não separação entre busca e comida | Separação motivacional entre caça e comida |
Armazenamento de comida | Não armazenamento | Armazenamento de comida |
Períodos de jejum e super-alimentação alternados | Alimentação continua | Períodos de jejum e super-alimentação alternados |
Partilha de comida | Não partilha de comida | Partilha de comida |
Cuidado com as fezes | Nenhum cuidado com fezes | Cuidado com as fezes |
Inibição de ataque dentro da própria espécie | Comunidade coesa | Inibição de ataque dentro da própria espécie, Comunidade coesa |
Territorialista | Nômade | Territorialista |
Cooperatividade | Não cooperação | Cooperatividade |
Pulgas | Sem pulgas | Pulgas |
sábado, 12 de dezembro de 2009
Gênesis
domingo, 6 de setembro de 2009
Das cavernas ao cinema

Que papel poderia ter essa capacidade na vida dos seres humanos. A questão da imagem não é uma questão de arte, ou eu deveria dizer que não é apenas arte. Ao afirmar que a questão da imagem é uma questão de arte eu estaria cometendo o mesmo erro de muitos estudiosos antes de mim, eu estaria segmentando o conhecimento humano e estaria segmentando o próprio ser humano. Para solucionar a questão da imagem é preciso como sempre abordar a questão por múltiplos aspectos. Relegar esta questão ao campo da arte ou da estética seria como procurar pela mente usando um bisturi ou um microscópio.
Em nosso mundo atual, a imagem, ou a representação gráfica, tem um papel fundamental e desempenha diversas funções em nossa civilização:
Entretenimento, Informação, Comunicação, e Arte



Tão profunda é essa importância que chega passar despercebido o fato de estarmos cercados por representações gráficas o tempo todo, onde quer que estejamos, do momento de nosso nascimento ao momento em que morremos.
Essa importância nos suscita uma questão prenhe de significado. Como pode uma coisa cujo significado só existe em minha mente se desenvolver num ambiente extremamente exigente de atenção e cuidados? Como algo tão biologicamente inútil pode tomar essas proporções?
Hoje é fácil atribuir importância biológica a representações gráficas, você pode ser facilmente morto por ignorar ou desconhecer um sinal gráfico:




Mas nem sempre foi assim. Houve uma época de nossa história em que imagens tinham absolutamente nenhum significado, visto que elas não existiam. Podemos afirmar que nossa espécie, ou seja, homo sapiens, tem cerca de 150.000 anos de idade e desde então houve muitas poucas alterações em nossos corpos. Porém somente nos últimos 30.000 anos surgiram representações gráficas do que quer que seja. Mas mesmo há 30.000 anos a importância biológica da representação gráfica é nula. No entanto, a despeito de sua aparente inutilidade biológica, de fato elas existem:




Ao descobrir por que há 30.000 anos o homem teve essa explosão de criatividade e de repente começou a desenhar talvez entendamos como as imagens ganharam a importância que têm e que importância de fato elas têm. O primeiro especialista de arte de caverna e o primeiro a propor um significado a essas pinturas foi o sacerdote francês Henri Breuil. Ele propôs que essas figuras representavam caçadas, e aparentemente essa é uma boa explicação, já que os desenhos representam em sua maioria animais como: bisões, renas e cavalos. No entanto, com o passar dos anos essa explicação começou a encontrar obstáculos. O primeiro deles foi o de que se essas pinturas representavam seus sucessos nas caçadas, porque então elas eram feitas nos pontos mais inacessíveis das cavernas? Não deveriam ser feitas onde pudessem ser vistas com facilidade? Mas o argumento esmagador foi uma evidência material. Ao escavar o fundo dessas cavernas percebeu-se que os restos das caçadas não eram dos animais representados nas figuras, esses animais representados não pertenciam a sua dieta habitual. E enfim a idéia da representação de caçadas caiu por terra.
Talvez para encontrar a resposta para essa questão devamos nos adiantar um pouco na história e procurar por pintores de cavernas que não estejam extintos, mas infelizmente isso não é possível. Contudo, na África do sul, nas montanhas Drakensberg foram encontradas pinturas que não datam de milhares de anos, mas sim de menos de 200 anos, feitas por um povo que ainda existe os SAN (bosquímanos). Porém temos um problema: eles não vivem mais nessa região. Eles foram expulsos pelos colonizadores da África e vivem hoje nas planícies do Kalahari na Namíbia, que fica a milhares de quilômetros da montanha mais próxima, onde a coisa mais dura que eles podem encontrar é madeira, então a cultura da pintura morreu junto com os pintores. Felizmente, o colonizador alemão Wilhelm Bleek realizou uma série de entrevistas com os remanescentes do povo que vivia nas montanhas no início do século XX. E o professor da universidade de Witwatersrand, David Lewes Williams, ao analisar as pinturas dos bosquímanos e as anotações de Bleek, formulou a teoria que hoje é amplamente aceita entre os arqueólogos. De que esse desenhos representam contatos com o que os bosquímanos chamam de mundo espiritual. Essa teoria é corroborada não só pelas pinturas em si, que contém detalhes que não poderiam ser explicados de outra forma, mas também por evidências mais que inquestionáveis que dizem respeito a própria arquitetura do cérebro.
Experiências realizadas pelo Dr. Dominic Ffytche em Londres no Instituto de Psiquiatria demonstram a capacidade ou a característica do cérebro, que sob certas circunstâncias cria determinados tipos de estados alterados de consciência e percepção. Alguns estados em particular nos são particularmente interessantes visto que são provocados, por exemplo, por ausência de luz durante um longo período, musica rítmica, luzes intensas na escuridão, canções ou orações repetidas muito rapidamente por logo período de tempo. (Para maiores informações sobre este assunto consulte o artigo história natural das visões neste site).
As imagens, as representações gráficas, em seu início tinham um significado religioso, e assim permaneceu até hoje. Porém, a partir da revolução da imprensa a imagem ganhou uma popularização, para usar o termo da época “vulgarização”. Com tudo, a imagem pode ter exercido uma influência ainda maior em nossa civilização.
O que começou a 30.000 anos, terminou da mesma maneira repentina e inexplicável a 12.000 anos, deixando os arqueólogos intrigados por anos. E a resposta veio da agricultura. Os intrigados cientistas começaram a pesquisar o passado genético da variedades de trigo e descobriram que o trigo que cultivamos vem de uma montanha na Turquia, uma montanha que fica a 32km de uma certa colina. Do mesmo período em que datam as últimas pinturas encontradas, data um estranho monumento, uma série de círculos de pedra como o Stonehenge, só que três vezes mais antigo, no topo de uma colina. Um monumento de tamanha magnitude, onde a própria colina é artificial, que seriam necessários milhares de trabalhadores por um longo período de tempo para erguê-lo. E neste monumento, talvez o mais antigo, está a resposta para o fim das pinturas nas cavernas. Suas pilastras estão cobertas de desenhos e representações do mesmo tipo das que eram encontradas nas cavernas e que só podem ser apreciadas à noite e com a iluminação de uma tocha. Provavelmente o trigo começou a ser cultivado para alimentar milhares de trabalhadores envolvidos na construção monumental, dando início assim ao processo que culminou na civilização que temos hoje.
Algo que aparentemente era simplesmente uma questão de estética ou arte na verdade é algo que faz revelações profundas sobre a constituição e o desenvolvimento do próprio homem, e que só puderam ser esclarecidas quando abordamos a questão a partir de diversos pontos de vista, tais como: arqueologia, biologia, fisiologia, religião, sociologia, agricultura. E não apenas do ponto de vista da arte.
Cássio Silveira Gomides 27/10/2008
referencia:
BBC - How Art Made the World (2005)
BBC - Como A Arte Fez O Mundo (BR)
Programa Dois - O Dia em que as Imagens Nasceram
terça-feira, 14 de julho de 2009
Deus, Sonho ou Delírio?

sábado, 4 de julho de 2009
O macaco pelado

Polegares opositores, um grande cérebro, a capacidade de criar símbolos. Essas são as características mais marcantes do Homo sapiens? Ou seria sua, imerecida e pretensiosa, suposta sapiência [1] a característica que torna o homem único? Bem poderíamos afirmar que são todas essas grandes e pretensiosas qualidades que tornam o homem único e inestimável para a “mãe natureza”.
Mas olhemos isso mais de perto. Os chipanzés têm polegares opositores, é um simples detalhe que faz com que suas palmas sejam longas e eles não possam fazer o tão aclamado movimento de pinça. Os ursos panda também têm polegares opositores especialmente para segurar bambu, é claro, afinal é a única coisa que eles sabem fazer. Então polegares opositores não são lá uma grande novidade na natureza, nem uma aberração inexplicável sem uma utilidade que seja inerente ao ser humano.
Definitivamente o do elefante é maior. No que diz respeito ao cérebro e a outras dimensões corporais nós não somos campeões em nada, mesmo dentro de nossa categoria, ou seja, os primatas, se levarmos em consideração a dimensão corporal o cérebro do chipanzé e principalmente dos bonobos perde por pouco.
Essa é boa, eu ouvi de um professor de filosofia: Capacidade de criar símbolos. Primeiro não há como afirmar que os humanos são os únicos a fazer isso, não há evidencias a esse respeito, mas como dizia meu grande amigo Carl Sagan “A ausência de evidência não significa evidência de ausência." [2]. Segundo, essa característica pode ser apenas uma propriedade emergente de um sistema cognitivo e não ter nada a ver com os seres humanos em especial.
Quanto a sapiência, não vou nem falar nada... A maneira como tem lidado com o mundo e uns com os outros já demonstra quanta sabedoria os humanos têm.
Existe, no entanto, uma característica bastante peculiar no ser humano que o destaca de todos os outros animais, não é uma característica pomposa como a capacidade de criar símbolos nem versátil como o movimento de pinça, nem tão evolutivamente significativa como um cérebro proporcionalmente grande. Contudo é uma característica bastante visível e por outro lado pouco notada. Caberia até perguntar: vocês já notaram que os humanos não têm pêlos? Isso mesmo pêlos, mais precisamente uma pilosidade densa cobrindo todo o corpo, como todos os outros animais têm. Ah é claro, nem todos, mas é interessante analisar essas exceções, elas são significativas.
Abandonar os pêlos é uma medida drástica e só foi adotada por mamíferos que mudaram radicalmente seu modo de vida. “Os morcegos foram obrigados a perder o pêlo das asas, mas conservam-nos no resto do corpo, de modo que não podem ser considerados uma espécie pelada. Alguns mamíferos escavadores — como a toupeira pelada, o oricterope sul-africano e o tatu sul-americano, por exemplo — reduziram o respectivo revestimento piloso. Os mamíferos aquáticos, como as baleias, golfinhos, porcos-marinhos, peixes-boi, dugon-gos e hipopótamos, também se tornaram pelados para viver na água. Mas o revestimento piloso continua a ser regra entre os mamíferos típicos, que vivem na superfície, quer corram pelo chão, quer trepem pelas árvores. Salvo os gigantes anormalmente pesados, como os rinocerontes e elefantes (com problemas de alimentação e arrefecimento muito particulares), o macaco pelado é o único que não tem pêlos, entre todos os milhares das espécies mamíferas terrestres, que são hirsutas, peludas ou feupudas.” [3]
Daí ou nós somos uma espécie subterrânea, ou somos aquáticos. Dado o recente gosto dos humanos por viver em tocas cada vez mais profundas e sua fuga constante do sol e do céu eu apostaria na primeira opção, mas isso é só uma aposta minha.
A grande questão sobre os humanos é que ninguém sabe para o que serve um ser humano. Este artigo foi feito num tom, digamos, leve, mas expressa uma questão bastante profunda de tentar encontrar o que vem a ser um ser humano e quais são suas principais características, pelo menos no que toca a biologia, que pode ser e será sua parte mais palpável. Mas se nosso intelecto nos permitir, iremos além disso, em busca da humanidade.
Cássio Silveira Gomides 12/08/2008
[1] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra: uma historia narrativa do mundo. Trad: Helena Maria Camacho Martins Pereira e Alzira Soares da Rocha. 2 ª Ed. – Rio de janeiro. Guanabara. 1987. (pg. 42)
[2] SAGAN, Carl. Mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. Trad: Rosaura Eichemberg – São Paulo: companhia das letras. 1996.
[3] MORRIS, Desmond. O macaco nu: um estudo do animal humano. Trad: Hermano Neves. 8ª Ed. – Rio de Janeiro. Record. (pg – 13-14).