sábado, 4 de julho de 2009

O macaco pelado

Polegares opositores, um grande cérebro, a capacidade de criar símbolos. Essas são as características mais marcantes do Homo sapiens? Ou seria sua, imerecida e pretensiosa, suposta sapiência [1] a característica que torna o homem único? Bem poderíamos afirmar que são todas essas grandes e pretensiosas qualidades que tornam o homem único e inestimável para a “mãe natureza”.


Mas olhemos isso mais de perto. Os chipanzés têm polegares opositores, é um simples detalhe que faz com que suas palmas sejam longas e eles não possam fazer o tão aclamado movimento de pinça. Os ursos panda também têm polegares opositores especialmente para segurar bambu, é claro, afinal é a única coisa que eles sabem fazer. Então polegares opositores não são lá uma grande novidade na natureza, nem uma aberração inexplicável sem uma utilidade que seja inerente ao ser humano.

Definitivamente o do elefante é maior. No que diz respeito ao cérebro e a outras dimensões corporais nós não somos campeões em nada, mesmo dentro de nossa categoria, ou seja, os primatas, se levarmos em consideração a dimensão corporal o cérebro do chipanzé e principalmente dos bonobos perde por pouco.

Essa é boa, eu ouvi de um professor de filosofia: Capacidade de criar símbolos. Primeiro não há como afirmar que os humanos são os únicos a fazer isso, não há evidencias a esse respeito, mas como dizia meu grande amigo Carl Sagan “A ausência de evidência não significa evidência de ausência." [2]. Segundo, essa característica pode ser apenas uma propriedade emergente de um sistema cognitivo e não ter nada a ver com os seres humanos em especial.

Quanto a sapiência, não vou nem falar nada... A maneira como tem lidado com o mundo e uns com os outros já demonstra quanta sabedoria os humanos têm.

Existe, no entanto, uma característica bastante peculiar no ser humano que o destaca de todos os outros animais, não é uma característica pomposa como a capacidade de criar símbolos nem versátil como o movimento de pinça, nem tão evolutivamente significativa como um cérebro proporcionalmente grande. Contudo é uma característica bastante visível e por outro lado pouco notada. Caberia até perguntar: vocês já notaram que os humanos não têm pêlos? Isso mesmo pêlos, mais precisamente uma pilosidade densa cobrindo todo o corpo, como todos os outros animais têm. Ah é claro, nem todos, mas é interessante analisar essas exceções, elas são significativas.

Abandonar os pêlos é uma medida drástica e só foi adotada por mamíferos que mudaram radicalmente seu modo de vida. “Os morcegos foram obrigados a perder o pêlo das asas, mas conservam-nos no resto do corpo, de modo que não podem ser considerados uma espécie pelada. Alguns mamíferos escavadores — como a toupeira pe­lada, o oricterope sul-africano e o tatu sul-americano, por exemplo — reduziram o respectivo revestimento piloso. Os mamíferos aquá­ticos, como as baleias, golfinhos, porcos-marinhos, peixes-boi, dugon-gos e hipopótamos, também se tornaram pelados para viver na água. Mas o revestimento piloso continua a ser regra entre os mamíferos tí­picos, que vivem na superfície, quer corram pelo chão, quer trepem pelas árvores. Salvo os gigantes anormalmente pesados, como os ri­nocerontes e elefantes (com problemas de alimentação e arrefeci­mento muito particulares), o macaco pelado é o único que não tem pêlos, entre todos os milhares das espécies mamíferas terrestres, que são hirsutas, peludas ou feupudas.” [3]

Daí ou nós somos uma espécie subterrânea, ou somos aquáticos. Dado o recente gosto dos humanos por viver em tocas cada vez mais profundas e sua fuga constante do sol e do céu eu apostaria na primeira opção, mas isso é só uma aposta minha.

A grande questão sobre os humanos é que ninguém sabe para o que serve um ser humano. Este artigo foi feito num tom, digamos, leve, mas expressa uma questão bastante profunda de tentar encontrar o que vem a ser um ser humano e quais são suas principais características, pelo menos no que toca a biologia, que pode ser e será sua parte mais palpável. Mas se nosso intelecto nos permitir, iremos além disso, em busca da humanidade.

Cássio Silveira Gomides 12/08/2008



[1] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra: uma historia narrativa do mundo. Trad: Helena Maria Camacho Martins Pereira e Alzira Soares da Rocha. 2 ª Ed. – Rio de janeiro. Guanabara. 1987. (pg. 42)

[2] SAGAN, Carl. Mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. Trad: Rosaura Eichemberg – São Paulo: companhia das letras. 1996.

[3] MORRIS, Desmond. O macaco nu: um estudo do animal humano. Trad: Hermano Neves. 8ª Ed. – Rio de Janeiro. Record. (pg – 13-14).

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